Um monge e seu discípulo viajavam pelo mundo, pedindo abrigo para passar as noites, onde encontravam.
Quando não tinham onde ficar, dormiam ao relento.
Certa vez pediram abrigo em uma fazenda muito pobre, cercas semi-destruídas, mato por aparar e a casa já bem judiada. Eram pessoas simples, possuíam algumas galinhas e uma vaquinha. Gente boa e simpática.
No jantar, o monge perguntou ao chefe da família:
- Como vocês fazem para viver? A fazenda está meio desgastada. Você não produzem nada?
O homem respondeu:
- Temos uma vaquinha que nos dá leite. Consumimos um pouco, com o restante fazemos queijo. Vendemos esse queijo na cidade e com o dinheiro compramos as outras coisas de que precisamos. É pouco, mas é o que temos.
Feita a parca refeição, todos foram dormir.
Pela manhã, fizeram o desjejum bem cedo saíram, agradecendo à hospitalidade e às refeições.
Ao passarem pelo pasto, o monge e o seu discípulo avistaram a vaquinha.
O monge deteve-se e pediu ao seu discípulo que empurrasse a vaquinha pelo penhasco próximo.
O discípulo constrangido argumentou:
- Mas é a única fonte de sustento dessa família... Como viverão...?
- Faça o que lhe peço...
O discípulo então cumpriu, contrariado, a ordem de seu mestre.
Anos depois, já retornando ao monastério, os dois viajantes passaram pela mesma propriedade. Agora próspera e bem cuidada.
Novamente pediram abrigo para passar a noite.
Perguntaram :
- Há alguns anos, conhecemos uma família que morava nessa propriedade. Sabem o que ocorreu com eles?
- Senhor, fomos nós que lhes demos abrigo.
- Quanta diferença! Da última vez eram pobres, quase não havia o que comer, a fazenda estava mal cuidada. E agora, está bonita, vejo plantações e gado. O que houve?
- O senhor se lembra que tínhamos uma vaquinha? Quis o destino que ela caísse da ribanceira e morresse. Com a sua morte, perdemos a única fonte de recursos que dispúnhamos. A necessidade fez com que descobríssemos outras habilidades e aprendêssemos a fazer outras coisas. A morte da vaquinha acabou nos mostrando quanto éramos ricos e não sabíamos.
O monge olhou para o seu discípulo e esse compreendeu que, muitas vezes, precisamos empurrar nossa vaquinha morro abaixo, para crescermos.
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